Particularmente julgo improdutivo
o tempo e a intensidade de discursos acadêmicos e marqueteiros que tentam
definir o papel dos recursos como castradores da liberdade ou heróis do
resultado. Gastamos energia na discussão de causas e raramente lemos ideias de
encaminhamentos para busca de soluções, num tipo de discurso da razão dos
autores e de pouco interesse no aluno, pois este é a razão da existência da instituição
de ensino.
Em meus vinte e dois anos de
magistério conheci, estudei e atuei com uma gama considerável de recursos e
todos sempre foram úteis a mim: estudante/professor. Ao longo de dez anos de
atuação em equipes de assessoria pedagógica observei projetos eficazes e
eficientes, e também sistematizações que apenas replicam o conteúdo impresso no
recurso, tais experiências, mostravam ações dúbias com o mesmo recurso.
Jogos ainda na embalagem e jogos
utilizados em contextos significativos, comunidades pesquisadoras e comunidades
que baixam material pronto da internet, computadores sem uso para preservação
das máquinas e laboratórios utilizados todos os dias, literatura confundida com
paradidático e projetos de leitura e publicação encantadores, apostilas com
inúmeras atividades de repetição e outras com situações de criação, pesquisa e
ampliação, livros que chegam em quantidades erradas em programas de governo e
livros que criam contextos de igualde de estudo.
Portanto, os recursos são
necessários para apoiar boas práticas escolares, e neste caso, o plural é
primordial. Esperamos que todas as aulas tenham planejamento e avaliação por
parte dos profissionais de Educação, dos alunos e de toda a comunidade. Quem
utiliza os recursos de maneira “A” ou “B” são os atores envolvidos, todos
responsáveis diretos pelos resultados de indicadores e sucesso medido por raras
pesquisas de egressos.
Onde está o indicador de formação
integral? O que o índice do IDEB representa para um jovem que concluí a etapa
de Educação Básica?
Os indicadores são importantes
mas não resumem o papel social do acesso à Educação, por outro lado, o
indicador numérico do resultado não propicia trocas de experiência entre as
redes de ensino, mas uma gama de artigos que discutem, em sua grande maioria,
onde está o problema, e muitas vezes, com recortes de pesquisa que contradizem
o real discurso de diversidade socioeconômica de nosso pais e do mundo.
Muito se destina a questionar a
atuação dos professores, no entanto, quem somos?
Sou professor por opção de
carreira, apaixonado, e logo no magistério entendi a dinâmica de formação
continuada (interesse pela pedagogia que estuda como a criança se desenvolve),
desde então, procurei estabelecer prosperidade financeira e o comprometimento
com minha missão.
Estou muito preocupado com a
formação para o magistério, os números indicam que já é crítico o déficit de
matriculados nas licenciaturas, o que já é percebido nas redes de ensino com
grau elevado de dificuldades para compor quadros completos. Por que não existe
o desejo em ser professor? Por que um juiz ganha mais que um professor? Por que
deputados, vereadores, senadores ganham mais que os professores? Quem tomará
uma atitude antes que não tenhamos mais professores?
As licenciaturas agora podem funcionar
em modalidade EAD, por meio de vídeo-aulas. Não sou contra aos cursos de
especialização (pós-graduação), mas não posso aceitar que alfabetizadores,
especialistas por áreas e outros profissionais da Educação tenham sua formação
básica de maneira não presencial e com no mínimo o estágio supervisionado de
perto. As redes de ensino estão pontuando frequentemente que necessitam de
cursos complementares para os recém contratados e por muitas vezes, recém
formados. Por que não existe uma carteira como a da OAB para professores?
O mestrado é outro impasse, pois
o recorte de pesquisa vira especialidade geral, ou seja, o mestre em Educação
recebe por vezes poderes sem conhecer o contexto escolar, a comunidade e muito
pior, não domina prática e didática de ensino. Estudar é fundamental para o
magistério, mas as experiências devem ter o mesmo peso que os títulos para
cargos de gestão. Já presenciei mestre discutindo com professora
alfabetizadora, sem saber literalmente como a criança costuma agir em situações
de alfabetização, mas o mestrado foi citado inúmeras vezes no discurso.
Minha formação em relação aos
recursos saiu do curso de Magistério, em quatro anos de teoria e prática todos
os dias. Utilizando o livro, os jogos, os espaços, os laboratórios em situações
de preparo com meus colegas e alunos da escola. Vivenciei os processos ao mesmo
tempo que estudava as teorias. A Pedagogia me trouxe maior aporte teórico, mas
sou claro em dizer que, um de nada vale sem o outra (prática e teórica).
Desenvolvi dinâmicas de
utilização de recursos com função didática, isso significa saber com o que o
apoio contribuí para o objetivo da aula, do projeto, da sequência didática etc.
Portanto, tive oportunidades de me preparar para a carreira do magistério.
O recurso é adequado quando
sabemos utilizá-lo e desde que respeite as concepções de ensino de cada
comunidade escolar, pois também não concordo com sistemas mecanizados. No
entanto, eles também devem ser opção de cada rede, já que falamos em autonomia!
O livro didático ou a apostila
(que é livro didático também) são importantes para ilustrar, mas muito mais
importantes para o momento de estudo do aluno, sozinho, com outros colegas e
com a família. Deve fornecer caminhos epistemológicos para a ampliação das
temáticas estudadas.
A oferta de literatura para o
desenvolvimento do gosto pela leitura (deleite), desenvolvimento de repertório
linguístico e o incentivo as práticas de comunicação mediada (publicações do
leitor).
Tecnologias para pesquisas,
ferramentas dinâmicas de estímulo aos estudos, inserção social e também o uso
adequado destes recursos para a vida inteira.
Jogos e brinquedos que contribuam
com um fim claro em cada situação, para proporcionar inferências que partam do
concreto aos menores, estimular a resolução de problemas e desenvolvimento de
consciência de superação, integração e regras.
Responsáveis que participem da
vida escolar de seus filhos, que saibam perguntar o motivo de cada assunto,
dinâmica ou processo avaliativo. Sociedade que questione os governantes e que
cobre a real qualidade na Educação, aquela que se percebe no dia a dia da
criança.
Além de salários dignos, boas
oportunidades de formação, recursos abundantes, interesse pela criança:
necessitamos de seriedade, responsabilidade e muita coerência em discursos que
tratem de Educação.
Só resta saber quem apresentará
mais soluções? Só resta saber quem colocará algo em prática? Só resta saber
quem cobrará tudo isso?
O principal apoio e não deixar
nossas crianças sem possibilidades de desenvolvimento, como estamos fazendo
neste momento! Necessitamos de Apoio!
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